Olá! o meu nome é Carl Olaf Figenschou, eu sou cidadão Norueguês por descendencia. Nasci em Johannesburg, África do Sul ( meu pai era Norueguês e tomou providência para eu também possuir a nacionalidade) , aos 5 anos mudei-me para Venezuela, lá cresci e vivi até os 25 anos, vim viver para Portugal em 2002,
mas primeiro gostava de contar o que me aconteceu. Corria o ano de 1998, e eu tinha de confirmar a minha vontade de continuar com a nacionalidade, isto antes de completar os 22 anos, fiz a petição na embaixada Norueguêsa em Caracas, e fiquei a espera da confirmação. Passados 6 meses e só depois de ter 22 anos chegou-me uma carta notificando a minha perda de nacionalidade, como podem imaginar isto foi um choque, pois eu apesar de estar na Venezuela a mais de 15 anos, não era cidadão Venezolano, apesar de ter nascido na África do Sul não era cidadão Sul Africano, imediatamente contactei a embaixada em Caracas a pedir explicação do que tinha acontecido, eles muito arrogantemente, despacharam-me dizendo que nada podiam fazer, e para que eu contacta-se a UDI( Ministério de assuntos de nacionalidade e imigração) logicamente envie-i carta escrita em Inglês (não aprendi Norueguês), só me enviaram uma breve resposta através de carta dizendo o que eu já sabia, e que também esta escrito no passaporte; de acordo com a lei tal tal tal etc etc, todo cidadão Norueguês nascido fora da Noruega tem que confirmar antes de cumprir 22 anos a sua expressa vontade de continuar com a nacionalidade etc etc etc. e que segundo os seus registos não existia nenhuma referencia minha. Foi o começo de um longo calvário, Na Venezuela por enquanto não havia problemas em ser "Apátrida" pois ainda tinha o meu cartão de identidade estrangeiro valido, mas para viajar fora era outra historia, pois a embaixada não mais ia entregar novo passaporte. entretanto comecei a procurar ajuda perante organismos governamentais como o human rights, mas eles diz eram me que como o meu caso não se enquadrava o melhor era procurar ajuda na ACNUR que é a organização que ajuda os refugiados, lembro-me de ter falado com a máxima representante de essa organização em Caracas uma Sra. Dinamarquesa, o recebimento foi tão frio, e a modo de despachar-me diz que eu não era refugiado! e que nada podia fazer.
Durante 4 anos continuei a minha vida como apátrida, pois as autoridades Venezuelanas não tinham conhecimento oficial da minha "situação ilegal" também nada poderiam fazer.... não tinha pátria para onde me pudessem enviar! Em 2002 a situação politica social e económica que se vive, motivá me a emigrar ( tinha feito algum dinheiro com uma empresa de táxis que entretanto tinha criado mas a devaluação da moeda fez me perder muito dinheiro) pensei mais uma vez que ia lutar pelo meu direito a retomar a minha nacionalidade, Mais uma batalha contra a lenta burocracia Venezolána, pedir as autoridades um passaporte de Emergência para sair do país, foram três meses de constantes viajem a capital, mas finalmente em Maio de 2002 lá estava eu com o meu passaporte, pronto para viajar a Portugal, pois la tinha familiares do lado da minha mãe. Em Junho já estava em Lisboa, etc etc etc......passados 4 meses (pensei que em Portugal iria ser mais fácil lutar pela minha nacionalidade Norueguesa, mas não foi) estava desempregado e quase sem dinheiro, já não podia voltar, alias já não podia viajar porque o passaporte de emergência era para ser usado só uma vez! pensei, bom ,a minha mãe é Portuguesa pelo tanto também tenho direito a nacionalidade Portuguesa, ora tentei obter-la...isto da vontade de rir, pois a verdade é que a burocracia em Portugal é tão ineficiente como na Venezuela só que mais disfarçada, pediram me mil e um documentos, na embaixada da África do Sul , na embaixada da Venezuela, etc etc etc, depois argumentaram que primeiro tinha de legalizar a minha situação da nacionalidade por que assim não podiam fazer nada ( Ora ai esta uma situação que se contradiz!!) desesperado entrei em contacto com um tio que tem investimentos em Portugal, e ele arranjou-me trabalho num campo de Golfe no Algarve, foi a minha tábua de salvação, em 2003 depois de tanto comentar a minha situação, um primo afastado (Produtor de documentarios para a NRK "televisão do estado") e a viver em Oslo, enviou-me um email a dizer que iria estar em Lisboa durante uma semana para produzir um documentario sobre o fado, e gostaria de me conhecer alem de saber em pormenor a minha situação. Lá fui ter eu a Lisboa, e ele prometeu-me ajudar ( antes de isso eu já tinha pensado na hipótese de me acorrentar as portas da embaixada Norueguesa em Lisboa e chamar todos os meios de comunicação! como forma de protesto.) Passado um mês ele ligou-me a dizer de que ia receber uma notificação da UDI, para dirigir-me a embaixada e assim solicitar o meu passaporte e nacionalidade de volta! em Maio de 2004 na minha primeira viajem a Noruega, fui visita-lo e fiquei hospedado durante 20 dias na sua casa em Fjellstrand perto de Oslo, ele contou-me como tinham acontecido as coisas, tinha falado com o director geral da UDI, em poucas palavras diz que si não resolvessem a minha situação, ele iria produzir um documentario e expor ao público a minha situação, milagrosamente, lá encontraram arquivada a minha carta que tinha sido enviada em 1998, foi um "erro burocrático " segundo dizeram, mas o verdadeiro motivo deve ser que 5 milhões de Noruegueses já são muitos e um a mais e que por cima não nasceu lá é demasiado.....
Eu entre tanto já tinha casado aqui em Portugal com filhos tinha o meu trabalho, por isso não tive a preocupação de querer ficar a viver lá, mas hoje em dia não é assim e decidi que quero junto com a minha família ir a viver para a Noruega.
E então, porque ainda cá estou? boa pergunta verdade? mas a realidade é que a família que eu possuo na Noruega , principalmente em Tromso, é muito afastada, pelo que posso dizer que não tenho ninguém que me possa acudir, não falo a língua ( coisa mais esquisita verdade? um Norueguês que não fala Norueguês!) e basicamente vou ser sempre visto como estrangeiro (o como aqui em Portugal muitos ainda se referem aos retornados das ex colónias) podem dizer ah mais você tem a nacionalidade que é o mais importante pelo que não tem problemas na hora de querer ir para la! mas não é bem assim, eu sinto-me na mesma situação de qualquer Português que se queira aventurar por lá, já tenho lido de Portugueses que arranjaram emprego e se tem dado muito bem. Quero que os meus filhos estudem e cresçam na Noruega, quero saber como posso começar o meu processo de mudança e como arranjar algum emprego onde não seja preciso falar a língua para começar. Obrigado.